Para ser feminista é preciso ser antirracista

Feminismo antirracista. Crédito: Carina Rosa

Feminismo antirracista. Crédito: Carina Rosa

No dia 29 de agosto, nos painéis simultâneos do 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, militantes negras e não-negras, de todas as partes do Brasil e de outros países, debateram as razões pelas quais a MMM defende que o feminismo deve ser antirracista em sua essência. O Encontro, que ocorreu no turno da manhã na tenda Dandara, reforçou a centralidade do debate racial para a construção de um feminismo verdadeiramente revolucionário.

A concepção antirracista, assim como a opção e defesa de um modelo econômico baseado na igualdade, surge de uma compreensão macropolítica do movimento feminista, na qual as opressões de gênero, raça e classe se entrecruzam diante da opressão patriarcal. As intervenções da mesa e da plenária, embora representassem diferentes lugares de fala, convergiram em uma opinião de que não é possível ser feminista e não entender que as mulheres negras sofrem uma opressão diferenciada e, portanto, necessitam de soluções diferenciadas .

A companheira Sandra Mariano, militante da Marcha e integrante do Fórum Estadual de Mulheres Negras de São Paulo, fez uma breve contextualização do processo escravocrata que se deu no Brasil e de como é possível identificar suas marcas nos fenômenos contemporâneos de discriminação racial. As mulheres negras continuam ocupando, em sua maioria, as profissões vinculadas ao serviço doméstico e ao cuidado. Elas são maioria entre a população mais pobre de todos os países, estão expostas às doenças mais graves, aos atos mais cruéis de violência e às situações de maior vulnerabilidade social.

Na mesma mesa, trazendo experiências do outro lado do Atlântico, a moçambicana Nilza Chipe relatou os resquícios permanentes do colonialismo sobre a vida das mulheres africanas, em suas múltiplas realidades. Comentou como o imaginário de que a África é um único país persiste ainda hoje, e invisibiliza a diversidade cultural de cada país e as diferentes formas de opressão exercidas nestas regiões.

Alguns dos temas transversais que surgiram ao longo do debate, a exemplo da ocupação de espaços de poder, das relações com o mundo do trabalho, com as religiões, a sexualidade e a violência, ilustravam o quanto as opressões de raça e gênero são indissociáveis. O consenso de que é necessário construir uma solidariedade entre todas as feministas com as situações de opressão específicas sofridas pelas mulheres negras, no caminho da emancipação feminina em sua forma mais completa.

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